terça-feira, maio 05, 2009

Frio

Cá fora, a chuva cai copiosamente...já quase não sinto os pés de tão gelados que estão. Olho para a minha mochila e mais parece um aquário... ao lembrar-me do conteúdo, pego rapidamente nela e encosto-a contra o peito.
-'Junto do coração, de certeza que não se estragam...o calor do coração tudo repara!'
Continuo ingenuamente agarrada à minha mochila azul, onde guardo as recordações que me deste. Com as pernas a tremer, levanto os calcanhares do chão e tento espreitar pela fechadura. Não conseguindo ver nada, esfrego os olhos com força como se limpasse as lentes de um binóculo... espreito novamente e não te vejo em sitio algum... consigo ver a sala onde me recebes para brincar... as bonecas estão alinhadas na prateleira, como se nunca tivessem estado noutro sitio... como se não tivessem sonhado, vivido nas minhas mãos... Consigo também alcançar com o olhar a porta do quarto onde guardas os teus segredos... de vez em quando, estando tu lá dentro, largo aquilo com que estou a brincar e voo sorrateiramente para junto da porta... encosto a mão ao manipulo e ele devolve-me um arrepio de frio, como se soubesse que me proibiste de lá entrar.... tu pressentes, sempre, sem falhar e ao saíres do quarto, tratas-me com agressividade e rancor... arrancas das minha mãos a minha boneca preferida e empurras-me bruscamente para o frio da rua... vezes houve em que me presenteaste com indiferença em vez de agressividade...e para ser sincera, prefiro a segunda...
Cá fora, continua a chover, como sempre acontece quando não estou contigo... o frio já subiu por todo o meu corpo, esmorecendo o calor do meu coração, que a cada segundo bate mais fraco... tenho que ir... hoje já não me deixas entrar e eu atingi o limite das minhas forças... Pode ser que amanha, amanha me deixes entrar...

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