sábado, agosto 25, 2007

Acordar...


Acordei ao som do trovão...forte, impediedoso e altivo...não se importa se interrompe o sono dos justos...não olha a nada...simplesmente existe com a vulgar intolerância da natureza...o sono que tinha ainda me entorpeceu durante alguns segundos...como se estivesse ainda ligada por uma corda invisivel ao mundo dos sonhos...no entanto, a repetição de sons, de relampagos não me deixou mais estar na cama...afinal de contas, Deus estava a proporcionar-me mais um espectaculo...seja de ira, como os antigos acreditavam, ou de outro qualquer sentimento...tanto me faz...gosto sim de ver a natureza a dominar o homem...a expressar o seu poder sobre nós...passamos tanto tempo a interferir nela que acho que está no direito de, de vez em quando nos reduzir aquilo que verdadeiramente somos...espectadores de toda uma peça, que constantemente mudam o curso da história...no entanto, espectadores...

A chuva cai diluviosamente...como se pretendesse limpar, lavar tudo o que está a mais...tudo o que não faz parte...pergunto-me se teria o mesmo efeito em mim...será que se for lá fora me limpa igualmente? me dá uma nova alma? livre e limitada ao essencial?

Com um entusiasmo infantil, procurei a chave da porta da rua....encontrei e quando abri a porta e e olhei para o céu, surgiu na minha mente o pensamento 'O mundo está como eu! Em revolta!'...mas tu...estás em revolta?

Lá fora, o temporal perde força, acalma, descansa... pudesse o meu coração e alma descansar também...para sempre!

terça-feira, agosto 14, 2007

Sh....


Nas memórias do que ainda não foi,

revejo-me num sitio calmo,

uma praia vasta e deserta,

os cabelos a dançar ao som do vento

e o coração a sangrar de tanta dor...

Tento evitar regressar a essa imagem,

luto com a escassa força que me resta,

a minha alma conhece profundamente

o preço alto de rever o futuro,

tão certo como a morte depois da vida...

Não guardo em mim grama de esperança,

tudo o que fui se aniquila aos poucos,

sou um perfume que perdeu a essência,

que perdeu a graça,

que se perdeu para sempre...

sexta-feira, agosto 10, 2007

Noite Sombria

Fui novamente confrontada com aquilo que não consigo aceitar nem quero...a morte...o final...o desfecho de uma vida...sei que a humanidade tem subjacente o conceito da morte...afinal de contas, um humano é um mortal...porque não somos um vival? é curioso como na forma como nos descrevemos a nós mesmos está intrínseca a ideia de um final, de uma validade...como se isso nos distinguisse daquilo que em crianças somos, nem todos sim, mas a maioria, habituados a pensar...que somos como o fogo eterno...não temos fim...que vivemos num conto de fadas com o 'e viveram para sempre felizes'...se a parte do feliz é, muito possivelmente, um engano, então a parte do 'para sempre' é mais que isso, é uma ofensa, é uma violência, é um sacrilégio...é uma mentira atroz que deixa marcas profundas num ser...nenhuma criança deveria acreditar nisso...que engano...sim...poderão contestar as minhas palavras citando a vida eterna em Cristo...sim, é verdade...mas não exclui a morte do físico...do ser...agora que recordo algumas ideias contidas num dos livros do António Damásio, sinto um arrepio na espinha...se não há uma separação clara entre alma e corpo, algo defendido no "Erro de Descartes"...então não é só o corpo que morre, senão a alma....
Penso em mim...qual o gozo de ler um livro do qual já se conhece o final triste? Para quê ver um filme que, de antemão conseguimos prever as últimas imagens? Para quê viver assim, se é já garantido que nos espera, no final, alguém do qual não conseguimos fugir? O que interessa no fim?
Fico-me com as palavras do sábio William of Baskerville:
-'How peaceful life would be without love, Adso. How safe... how tranquil...and how dull.'