domingo, maio 31, 2009

Direcções...

Será que a ordem do tempo é igual em todo o universo? Será que os relógios giram da esquerda para a direita noutros mundos?
Se pensarmos bem , a vida é como um segmento de recta... uma linha, uma linha com inicio e fim... ou será antes fim e inicio? Se eu pegar num cordel, com duas pontas, e o emaranhar de forma confusa, saberei eu qual o inicio e o fim?
Talvez o nascimento e a morte não sejam aquilo que desde o inicio tomámos como certo. Na prática, não sabemos nada... nada sobre esses dois momentos da vida de uma pessoa. Mas como todos os dias somos confrontados com essa realidade, tivemos que arranjar um modo de conviver... demos-lhes nomes, retratámos-los em quadros, livros, filmes...desenvolvemos mecanismos para os tentar controlar... mas no final, conhecemos tanto deles como no inicio.
Quem sabe se quando morremos, o mundo simplesmente não muda de direcção, os relógios não começam a girar para o lado contrário e mais uma vez nos convencemos de que a ordem da vida é essa? Na prática, a única que conhecemos...
Quem sabe?

domingo, maio 24, 2009

Não ao amor!

Quero fechar-me numa caixa,
proteger o meu coração...
encerrar-me com mil trancas,
no frio escuro da solidão...

Quero viver num sitio remoto,
Sem alegria, ternura ou amor,
longe do mundo lá fora,
longe de qualquer ilusão...

Quero embriagar-me de dor,
Perder-me na escuridão,
Desertar de mim mesma,
Fugir de toda a razão...

Quero rasgar as entranhas do meu ser,
Destruir a minha fortaleza, incendiar o meu castelo,
Desligar-me de qualquer prazer,
Purificar-me pela dor e sofrimento...

Renascer noutro mundo,
Numa outra dimensão,
Onde o amor não seja mais,
Do que uma estúpida invenção!

terça-feira, maio 05, 2009

Frio

Cá fora, a chuva cai copiosamente...já quase não sinto os pés de tão gelados que estão. Olho para a minha mochila e mais parece um aquário... ao lembrar-me do conteúdo, pego rapidamente nela e encosto-a contra o peito.
-'Junto do coração, de certeza que não se estragam...o calor do coração tudo repara!'
Continuo ingenuamente agarrada à minha mochila azul, onde guardo as recordações que me deste. Com as pernas a tremer, levanto os calcanhares do chão e tento espreitar pela fechadura. Não conseguindo ver nada, esfrego os olhos com força como se limpasse as lentes de um binóculo... espreito novamente e não te vejo em sitio algum... consigo ver a sala onde me recebes para brincar... as bonecas estão alinhadas na prateleira, como se nunca tivessem estado noutro sitio... como se não tivessem sonhado, vivido nas minhas mãos... Consigo também alcançar com o olhar a porta do quarto onde guardas os teus segredos... de vez em quando, estando tu lá dentro, largo aquilo com que estou a brincar e voo sorrateiramente para junto da porta... encosto a mão ao manipulo e ele devolve-me um arrepio de frio, como se soubesse que me proibiste de lá entrar.... tu pressentes, sempre, sem falhar e ao saíres do quarto, tratas-me com agressividade e rancor... arrancas das minha mãos a minha boneca preferida e empurras-me bruscamente para o frio da rua... vezes houve em que me presenteaste com indiferença em vez de agressividade...e para ser sincera, prefiro a segunda...
Cá fora, continua a chover, como sempre acontece quando não estou contigo... o frio já subiu por todo o meu corpo, esmorecendo o calor do meu coração, que a cada segundo bate mais fraco... tenho que ir... hoje já não me deixas entrar e eu atingi o limite das minhas forças... Pode ser que amanha, amanha me deixes entrar...