sexta-feira, julho 18, 2008

Tristeza...


No cair da tarde sou surpreendida por uma onda de tristeza… uma que chega de mansinho, sem fazer som… distraio-me por breves momentos, e sem que me aperceba, baixo as minhas defesas e cedo caminho à dor que aproveita qualquer cantinho mais escuro do meu ser… Brinca às escondidas comigo, como se de uma criança se tratasse…mas inocência é algo totalmente antagónico à sua natureza… não há nela qualquer vestígio de ingenuidade, de candura, de esperança… é como um tumor que prolifera sem controlo… invade todo o espaço, não deixando lugar à existência de qualquer coisa que não seja ela mesma… O que posso eu fazer? Como luto eu com algo que me conhece, que trata por tu todas as minhas fraquezas?

quinta-feira, julho 03, 2008

Dor...



Já não tenho nada cá dentro… sinto-me vazia de luminosidade, sem sentido, sem esperança… a dor é a minha única companhia nestes momentos de agonia... espero a morte como um momento de piedade… como uma libertação de uma vivência que há muito perdeu a consistência, uma vivência curta, tão previsível que só o seu fim lhe pode conferir alguma imprevisibilidade… recordo-me de, a dada altura da minha existência, presenciar um ser humano que pedia ao céu que lhe fosse concedida misericórdia… nesse momento, não fez sentido… eu não queria, a vida dessa pessoa não lhe pertencia apenas… era de todos… estava imbuída em mim como o meu cheiro, como a minha pele… eu era parte dela e ela de mim… e não entendi… não compreendi o que podia existir de tão horrendo e tão puro ao mesmo tempo, que levasse alguém a suplicar por descanso… algo que de tal forma tomava conta da pessoa que não deixava espaço para mais nada… que tornava o acto de respirar, algo tão inato ao ser humano, como um dos momentos mais dolorosos, mais excruciantes… que sublimam todo um presente…e mais que tudo… aniquilam o futuro… não posso dizer que a minha dor é semelhante à dor dessa pessoa… dor é algo incomparável, algo impossível de se medir… a dor tem como suporte, como instrumento de medida a sensibilidade de cada um… e assim como a dor, a sensibilidade é algo que não se mede… pode talvez fazer-se comparações simplistas, para amenizar a falta de compreensão daqueles que rodeiam o sofrimento… mas nunca é possível ter uma verdadeira noção da dor de um ser… seria para isso necessário que nos libertássemos da nossa pele… e penetrássemos no outro ser… tanto seria diferente… a sensibilidade como tudo o que a ela está subjacente… os sabores seriam diferentes, o tacto, os cheiros, toda uma noção, uma perspectiva do mundo como a que experimentamos, seria algo totalmente díspar… no entanto, apesar da miríade de diferentes modos de sentir, de viver, a dor é algo universal… é uma das linguagens mais básicas, mais simples que existe… talvez seja até a mais bela de todas… a mais significante… a que mais nos desperta para a nossa própria existência e… a que mais constitui motivo para acabarmos com ela...