quinta-feira, novembro 29, 2007

ÉS? QUEM?


Sei que te sentes só...sei que te sentes vazia e ao mesmo tempo cheia de sofrimento....sei que sobrevives mas nem sabes bem como...sei muito...muito de ti...o meu coração sofre com o teu...as tuas chagas são as minhas...não nos dissociamos como personalidade...na realidade coexistimos tu e eu e muitas mais...é como um caleidoscópio que roda e vês imagens diferentes a cada olhar...somos todas uma e somos cada uma, alguém diferente...com gostos diferentes, com sofrimentos diferentes, com preocupações diferentes....mas um só coração...como pode um só coração suportar sofrimento de tantas de nós? olho-me no espelho e já não sei quem vejo....talvez veja as nossas diferentes partes misturadas numa colagem de criança...à custa de pastilhas elásticas, pioneses, cola u-hu, fita cola...sei lá...todas as formas possíveis imaginarias de colar, de coser, de remendar alguém...mas resulta? consegue manter juntas todas as nossas diferenças? todas as nossas fracturas, que com o tempo cedem cada vez mais? ...ainda sim....mas não muito mais ...Quebra-me ....Quebra-nos...Rasga tudo o que somos e deixa-nos voltar para aquilo que sempre fomos...sombras de alguém e nada mais.....

quarta-feira, novembro 07, 2007

Livro Inacabado...

Uma página, um dia...páginas escritas no inicio com sons...sons de choros miudinhos, denunciadores de dores de barriga ou de uma fome devoradora...mais tarde, com o passar do tempo, escritas com dedos sujos de comida, de iogurtes, banana, papa cerelac...bah...depois, de forma mais amadurecida, com mil e uma canetas de feltro coloridas...azuis, amarelos, vermelhos, misturas de todas as cores possíveis e imaginárias...páginas que contam sonhos, em forma de palavras, em forma de desenhos, nas várias formas de uma criança para quem o mundo é um espectáculo de magia, com coelhos que saiem de cartolas, pombas que aparecem de lenços e limites que não existem...depois chega o peso da responsabilidade...já se escreve com esferográficas ou canetas de tinta permanente azuis ou pretas...paginas com somatórios, letras, listas de coisas a fazer e feitas...os ponteiros rodam inexoravelmente, e as paginas começam a ser escritas com o som de dedos que batem, que agridem as teclas e cuja escrita é guardada num disco pequeno...stress, muito stress, pressão, amargura que cresce dentro de mim e não é tratada...e finalmente...a tinta não passa já senão de sangue...sangue que escorre primeiro lentamente...mas que a determinada altura jorra como uma enxorrada num dia de tempestade...e subitamente...não há sangue...não há som...não há palavras...só há silencio e vazio...não há eu...e o livro fica assim...por acabar...no meio de um paragrafo...no meio de uma frase...no meio de uma palavra...fica simplesmente...no meio...