quarta-feira, maio 23, 2007



Estou a perder-me…sinto-me nitidamente a ir abaixo…psicologicamente já quase não existo…só ainda persiste o físico…a dor que sinto é tão forte que é neste momento a única coisa que me demonstra que existo…não tenho nada mais…sou como um castelo de cartas… um colosso de estabilidade à espera de uma pequena corrente de ar que deita tudo abaixo…já perdi a capacidade de reconstrução…não há mesmo nada…é apenas uma questão de tempo...

terça-feira, maio 01, 2007

Tomás , o coração de ouro!




Era uma vez um menino que tinha um coração de papel. Chamava-se Tomás e era um bom rapaz, simpático, atencioso, sempre pronto a ajudar outras pessoas. Toda a gente crescida da aldeia gostava dele, só os meninos não gostavam. Estavam continuamente a meter-se com ele, devido à sua diferença…sim, era uma característica que implicava muitas restrições. Suponho que ter um coração de papel não deve ser fácil, não se pode apanhar chuva, não se podem fazer esforços…enfim, não se pode muita coisa porque é muito frágil. No entanto, mesmo maltratado, o Tomás ansiava por poder brincar com os outros meninos, também ele queria sujar a roupa, correr e perder-se no meio de um prado cheio de espigas de trigo, descobrir o prazer de sentir as gotas de chuva a embater no corpo…e começou a achar que não valia a pena viver…como se a sua felicidade dependesse unicamente de ter um coração igual a tantos outros, que bate e vive. Triste e desanimado, Tomás partiu em busca de alguém que lhe fizesse um transplante ao coração…procurou por todo o mundo, até que encontrou um médico, já com alguma idade, que lhe disse que era muito bom ele ser assim, até tinha vantagens…ter um coração de papel significava que não envelhecia, não se tornava mais lento e pachorrento como os corações das pessoas normais…e como não batia, nunca deixava de bater…E o Tomás pensou, repensou e chegou à conclusão de que ter um coração de papel poderia até ser uma coisa boa…ora se o papel já existe desde o tempo da antiguidade, isso quereria dizer que ele teria uma esperança de vida muito superior à das outras pessoas. Assim, poderia fazer o bem durante muitos e longos anos. Por isso, o Tomás encheu-se de coragem e regressou à sua aldeia…lá os meninos já não eram meninos... Eram agora velhotes, com longos cabelos brancos que testemunhavam a passagem do tempo. Quando o viram, encheram-se de alegria por rever aquele amigo há tanto desaparecido e pediram-lhe desculpa pelas maldades que lhe tinham feito. Explicaram que o tinham maltratado apenas porque não percebiam o que era ter um coração de papel, mas que, com o passar do tempo, tinham percepcionado que o coração de papel dele valia mais que os seus de carne. Tomás, ao perceber o quanto tinha sido amado, ficou sensibililizado. Entendeu nesse momento que a sua longa busca por um sentido na vida, por uma explicação, o tinha privado de tanta coisa na vida que agora queria aproveitar o resto que tinha. E assim, passou muitos e longos anos a cuidar dos seus amigos…idosos por fora…crianças por dentro.