segunda-feira, setembro 03, 2007

Sofia e o Espelho Mágico

Há muito, muito tempo viveu uma menina muito especial. Chamava-se Sofia e era princesa num reino vasto e abastado. A sua beleza era de tal forma deslumbrante e radiosa, que não deixava ninguém indiferente. Dizia-se que quem olhasse nos seus olhos sentiria o calor do sol no coração, uma sensação quente e suave, capaz de afastar todo o medo e amargura de um ser.
A rainha, à semelhança do que a sua mãe havia feito consigo, ofereceu à pequena princesa um espelho mágico, que fazia há muitas gerações parte do legado da familia. Este espelho era realmente mágico, pois quando a princesa se olhasse no espelho, veria refletido nele, não a sua imagem, mas uma imagem bonita ou feia de sí mesma, consoante estivesse a satisfazer, ou não, as expectativas da mãe, que, segundo ela, eram semelhantes às dos seus subditos.
No inicio, Sofia não se olhava muito no espelho, porque, como era evidente, cada vez que fazia uma asneira, a imagem refletida era a de uma Sofia feia. No entanto, a menina queria tanto sentir-se amada e segura, que, em face às contantes pressões da mãe para que usasse o espelho, cedeu e começou a guiar o seu comportamento pelo que via refletido neste. O que a rainha não sabia era que uma bruxa má havia posto um feitiço no espelho para que este fosse cada vez mais exigente, para que precisasse de comportamentos exemplares para mostrar uma imagem bonita da pessoa que nele se olhasse. E Sofia, sem saber desse estranho feitiço, recorria cada vez mais ao espelho numa tentativa de se sentir amada, compreendida e respeitada. A determinada altura, já não havia, para Sofia, opinião mais real e valiosa que a do espelho, toda a sua auto-estima se baseava na imagem refletida neste. E assim, incapaz de satisfazer a todo o momento as cada vez maiores exigências do espelho, Sofia começou a desesperar, a ficar tão triste, tão triste, que a alegria não passava já senão de uma memória.
No meio dos seus subditos, começou a circular um rumor de que a princesa estava cada vez mais fraca, que caminhava para a morte. Pedro, um rapaz novo e de bom coração, ouviu o rumor, e tendo uma vez visto de relance a beleza da princesa, acreditou que conhecia a solução para os seus problemas. E assim, pediu aos reis uma audiência.
A rainha, afogada em desespero por não conseguir afastar a tristeza da sua filha, concedeu a Pedro a oportunidade para falar com Sofia.
No dia seguinte, Pedro apresentou-se perante Sofia. Esta não olhava senão para o espelho, era como se estivesse hipnotizada pelo reflexo que via nele. Pedro, num gesto meigo, afastou o espelho do campo de visão de Sofia, e os seus olhos encontraram-se. Nos olhos de Pedro, Sofia viu a sua imagem refletida, tal como era, com defeitos e com qualidades, e assim, a ligação cruel que tinha ao espelho quebrou-se. Estava finalmente livre das correias que a haviam atormentado durante tanto tempo. O espelho, irado por ter perdido o poder que detinha sobre a princesa desfez-se em mil pedaços, que como o pó, foram levados por uma subita rajada de vento.
A rainha, ao entender o mal que tinha causado a sua filha, correu e debruçou-se sobre ela, pedindo-lhe desculpa, disse-lhe que o mais importante para ela era a felicidade da filha, e não se importava mais com o que os outros pudessem pensar. Sofia, uma vez livre do espelho, recomeçou a viver a vida que tinha ficado suspensa à tantos anos atrás e, com Pedro, tornou-se mais tarde numa rainha muito feliz.
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