quarta-feira, novembro 15, 2006

Silêncio Sufocante


Simplesmente não consigo…não tenho forças para deitar para fora sentimentos, pensamentos, nada…sinto-me estéril, incapaz de soprar vida seja a que for…não sei…deixei de saber explicar…a vida passa por mim e deixei de lhe perguntar alguma coisa…já não questiono, não contesto…deixo-me ficar…afinal não passa tudo de uma ilusão…procuro há tanto por respostas, por soluções…e elas tardam em aparecer…será que existem? Talvez não…talvez não haja razões para o que acontece…talvez Deus jogue aos dados afinal…Sinto dentro de mim um turbilhão de tudos e de nadas…de emoções, sensações, certezas e incertezas…não sei…talvez seja melhor calar-me…falar não ajuda a ver a luz ao fim do tunel…até agora não ajudou, porque ajudará depois? Sinto-me sem ar…morta neste silêncio...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Trovões...

Gosto de trovões...conseguem-se sentir utilizando quase todos os sentidos....ouves o ruído, vês o relâmpago, cheiras o ar carregado de electricidade, sentes o chão que chocalha debaixo dos teus pés....só falta o gosto....gosto de satisfação...um misto de emoção com perigo. Lembro-me em pequena, com as maos e cara encostadas ao vidro do meu quarto, extasiada com aquele espectáculo monumental especialmente dedicado a mim...soprava para o vidro e o ar quente por mim exalado criava uma mancha embaciada onde dava largas ao meu espírito criativo e escrevia algo que sabia que, anos mais tarde, seria recordado como uma contribuição filosófica para a humanidade...sei lá, uma baboseira qualquer...o meu nome talvez...apenas o meu primeiro nome...para quê apelidos quando se é tão genial? E assim, após um trovão, pedia num instante ao grande orquestrador que parasse tudo por um bocadinho para que eu conseguisse ir buscar o chá quente à minha espera, preparado pela minha avó... no quentinho, olhava para a rua, observando as pessoas que passavam com pressa de chegarem a casa, carregadas com sacos e malas e tudo o mais possível e imaginário, maldizendo aquele momento...cruzavam-se mas não se viam...como se olhar para a outra pessoa implicasse mais uns 10 minutos de atraso...mas de facto, não eram como eu...não sabiam apreciar a oferenda que a natureza lhes oferecia de bandeja...lembro-me ainda que vibrava quando faltava a luz...é obvio que havia aquelas consequências directas, em que só uma pessoa que não estivesse embrenhada na espiritualidade do acontecimento pensava...sei lá...o congelador que começava a descongelar, a televisão que se calava impedido a exibição da novela das 19...e eu...exultava...ia sorrateiramente tacteando o caminho até à despensa em busca de umas velas velhas, compradas para o efeito, por mim...não era adepta das modernices eléctricas do meu pai (laternas)......e assim, acendia as velas com ajuda de uns fosforos, utensílio hoje em dia quase em vias de extinção...E ficava parada...vendo o bruxulear da chama...hipnotizada por aquela manifestação frágil do poder do fogo...talvez experienciando o que os meus antigos sentiram...talvez fosse, de facto, o regresso às origens...mas perco-me...perco-me nestas memórias...ai...ai...hoje já não há espectaculos assim...perderam-se...que pena...