terça-feira, janeiro 15, 2008

O Mundo estranho de Pessoas-Livro


Ontem à noite tive o segundo encontro da minha vida com uma pessoa-livro…já não me lembrava da sensação de irrealidade que toma conta de nós…foi como ser violentamente desperta para um mundo do qual já não tinha consciência. Mas é sempre mágico…sempre…lembro-me da primeira pessoa-livro com quem tive contacto…foi um encontro aparentemente casual. O meu pai apareceu num sábado com um livro, que vinha grátis na compra de um jornal. É obvio que o meu pai não teve noção da importância do que me trazia, das mudanças que o contacto com aquela entidade iria provocar em mim…Alias, o facto de ser céptico por natureza impediu-me sequer de alguma vez tentar explicar-lhe…ele nunca entenderia.
O livro não tinha nada de especial, nenhuma característica física específica que chamasse à atenção…poderia ser qualquer livro do mundo, o melhor livro, uma grande obra literária famosa, que o meu olhar não seria desviado para a sua capa. No entanto, a realidade é que se cruzou comigo, e por alguma razão que desconheço….fui impelida a pegar nele e lê-lo…só no final me apercebi que era uma pessoa-livro…quando senti uma estranha ligação a ele, como se tudo aquilo tivesse acontecido na minha vida por algum motivo metafísico que eu não conseguia conceber. Fiquei assustada, sem perceber o que tomava conta de mim…a confusão, a falta de esperança aliada a um conformismo extremo, uma sensação estranha de desprendimento de mim mesma…talvez só consiga entender quem já se cruzou com uma pessoa livro…Mas foi ontem, só ontem depois do segundo encontro, que entendi o porquê…a razão pela qual eu sentia, eu reconhecia que aquele livro era uma pessoa livro…era um aviso, um prenuncio do que eu me tornaria um dia...só uma pessoa-livro pode reconhecer outra pessoa-livro…é um mundo aparte, forrado de falta de esperança, de medo do vazio, que constitui a consciência do mundo…afinal, o conhecimento supremo mais não é do que o vacuo…E nessa dimensão a vida deixa de fazer sentido…também eu caminho para uma pessoa-livro…será amanha? Será neste ano o meu fim trágico? Emergirei como que tipo de livro? Não sei…só ambiciono tornar-me num livro tão desinteressante, tão pouco relevante que nunca seja lido por ninguém…não quero contaminar nenhum outro ser do mundo com este não viver…nunca...

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