Tarde...
Sento-me e ao meu lado, uma pessoa, uma mulher, pergunta-me se a mesa adjacente está ocupada. Respondo que não, ela afasta a mesa para o outro lado, pousa um conjunto de revistas acabadas de comprar e senta-se....Tranquilamente, a mulher pega em cada uma e retira a etiqueta do preço... presumo que seja algum hábito antigo pela rapidez e destreza com que o faz... depois, escolhe uma e arruma as restantes num dos cantos da mesa, com o cuidado que de fiquem perfeitamente alinhadas... como se todo o seu mundo ruisse caso uma delas estivesse um centimetro fora do lugar...Uma imagem faz-me regressar a mim... os meus olhos enchem-se de lagrimas silenciosas, reveladoras do sofrimento que contenho... alheia à minha pessoa, a mulher continua com o seu ritual de folhear revistas, possivelmente algo que faz às 20:30 horas de todos sábados, de todos os meses, anos e séculos... Não dedica grande atenção que que lê, mas continua de uma forma obstinada, como se procurasse naquelas páginas o segredo da vida... Pudesse ela partilhar comigo o que tanto busca... Subitamente, guarda as revistas na mala, levanta-se e vai-se embora... Mais tarde, olho para a mesa abandonada numa tentativa de rever os ultimos momentos... tento procurar uma marca, um sinal de que a mulher ali esteve e constato que a mesa está perfeitamente encostada à parede, assim como a cadeira, que descansa alinhada com a mesa, certamente à espera de um outro alguem... tudo ficou alinhado... maior contraste com a minha vida não há... sucumbo...